Habitação

Sobrecarga financeira e instabilidade marcam arrendamento em Lisboa

Março 7, 2025 · 10:48 am
Foto de Alice Butenko na Unsplash

Mais de 70% dos inquilinos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) enfrentam uma sobrecarga financeira significativa, gastando mais de 35% do seu rendimento em despesas com habitação. Destes, quase metade destinam mais de metade dos seus rendimentos ao pagamento da renda, revelando um mercado habitacional marcado pela instabilidade e dificuldades económicas, segundo um estudo do Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais divulgado ontem.

O estudo identifica três grandes segmentos no arrendamento: o mercado liberalizado, caracterizado por rendas elevadas e contratos de curta duração; o mercado protegido, que garante maior estabilidade contratual, mas concentra habitações degradadas; e o mercado informal, onde a precariedade habitacional se cruza com a instabilidade laboral e a falta de direitos contratuais.

A investigação destaca que o setor do arrendamento não só não conseguiu reduzir as desigualdades sociais, como se tornou um fator de ampliação desse fosso. A liberalização do mercado, diz o estudo, não aumentou significativamente a oferta de casas nem baixou os preços, mantendo a habitação inacessível para grande parte da população.

Mudanças forçadas e insegurança crescente

Metade dos inquilinos da AML mudou de casa nos últimos cinco anos, sendo que um terço teve de sair contra vontade, por decisão do senhorio. Em alguns casos, a rotatividade é ainda mais expressiva: 18% dos inquiridos referem ter mudado três ou mais vezes nesse período.

Estes dados atestam a “elevada insegurança e instabilidade” como uma das características apontadas ao mercado de arrendamento da AML pelas quatro investigadoras, Carlotta Monini, Raquel Ribeiro, Ana Cordeiro Santos e Rita Silva. O estudo “O arrendamento habitacional na AML: um mercado segmentado, inacessível e inseguro”, realizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em parceria com a associação Habita, partiu de um inquérito a 959 pessoas, questionadas entre fevereiro e abril de 2023.

A insegurança habitacional é uma preocupação transversal. Mais de metade dos inquilinos (53%) teme não conseguir manter a casa onde vive, sentimento que aumenta para 70% entre estrangeiros e para 60% na faixa etária dos 35 aos 50 anos e 58% se forem mulheres.

Além disso, 10% dos inquilinos relatam ter sido alvo de assédio para abandonar a habitação antes do termo do contrato, com os idosos e os estrangeiros a serem os grupos mais afetados.

Impacto nas desigualdades sociais

A qualidade das habitações arrendadas na AML é outro fator crítico. Cerca de 90% dos inquilinos vivem em imóveis com pelo menos um problema estrutural, desde humidade e falta de isolamento térmico até deterioração grave. Para 41% dos inquiridos, a situação é ainda mais grave, com quatro ou mais problemas identificados na sua habitação.

A habitação “cada vez mais é um fator de reprodução das desigualdades económicas e sociais entre proprietários e inquilinos”, assinala Rita Silva, alertando que a tendência “tem vindo a agravar-se e pode agravar-se no futuro, se nada for feito em contrário”.

O estudo “é o retrato de uma crise habitacional que é transversal a um grupo alargado da população inquilina, ainda que com significados distintos em cada componente do mercado de arrendamento”, liberalizado, protegido ou informal, resume Rita Silva.

A investigação conclui que as dificuldades no acesso à habitação e a instabilidade do setor agravam desigualdades sociais já existentes, afetando de forma desproporcional mulheres, estrangeiros, idosos e famílias com crianças.

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