Em Portugal, o dia de São Martinho é uma celebração marcada por tradições ancestrais. A cada 11 de novembro, o país abraça a chegada do “Verão de São Martinho” com os magustos, comendo as deliciosas castanhas assadas acompanhadas de água-pé ou jeropiga.
Estas tradições refletem a relação profunda entre os portugueses e as castanhas, que desempenharam um papel importante na dieta e economia local ao longo dos séculos.
A lenda de São Martinho
De acordo com a lenda, no século IV, Martinho, um soldado romano conhecido pela sua generosidade, rasgou a sua capa e com ela cobriu dois mendigos durante um dia frio e tempestuoso de outono.
Em resposta a esse ato de bondade, os céus abriram-se e os raios de sol iluminaram a terra. Por isso, nesta altura do ano, espera-se que o milagre do “Verão de São Martinho”, um período de clima ameno, se repita e aqueça o outono.
Martinho abandonou a guerra, tornou-se monge e dedicou-se a espalhar a fé cristã, tornando-se num dos santos mais populares da Europa. O dia 11 de novembro assinala a data do seu funeral.
Celebrado em diferentes países
A ligação entre as celebrações deste período e as castanhas remonta também a tradições antigas, ao magusto de Todos os Santos, que era celebrado a 1 de novembro, com fogueiras e castanhas para homenagear os entes queridos falecidos.
Depois da passagem para o calendário gregoriano, em 1582, que suprimiu dez dias ao anterior calendário, este magusto passou a ser comemorado a 11 de novembro. Mais tarde este tornou-se oficialmente o dia dedicado a São Martinho, unindo as tradições.
Em Portugal é costume comer castanhas assadas, tal como em zonas de França e Itália, mas noutros países as castanhas não fazem parte deste dia. Em Espanha faz-se a matança do porco; na Alemanha a tradição passa por fazer fogueiras, comer doces e vinho quente; em Itália faz-se também a prova do vinho novo e na Croácia as uvas são abençoadas.
Em comum, todos são eventos comunitários de partilha dos frutos da estação.
Base da alimentação europeia
Embora seja comum referirmo-nos às castanhas como o fruto do castanheiro, tal não é rigoroso. Na verdade, o fruto do castanheiro é o ouriço e a semente deste é a castanha.
As castanhas tiveram um papel crucial na alimentação do país ao longo dos séculos. Antes da introdução da batata, depois dos descobrimentos, as castanhas eram um alimento básico na dieta europeia, apreciadas pela sua versatilidade, teor de energia, fibras e nutrientes essenciais, como vitaminas B e C.
Foram amplamente utilizadas por monges e freiras na confeção de doces conventuais durante a Idade Média, enquanto a farinha de castanha era um alimento fundamental, conhecido como o “pão dos pobres”. A castanha sustentou comunidades em tempos de invernos rigorosos, demonstrando sua importância histórica e cultural na sociedade portuguesa.
Portugal é o segundo maior produtor europeu
A castanha continua a desempenhar um importante papel na economia nacional. Além do reconhecimento pela sua qualidade excecional, Portugal é o segundo maior produtor a nível europeu, e o quarto do mundo. Os números revelam que a exportação é o destino de mais de um terço da castanha produzida no país.
Durante as celebrações do São Martinho, as famílias reúnem-se em torno de um fogo aceso para assar castanhas e provar o vinho novo da estação, perpetuando uma tradição que une gerações em torno deste símbolo da cultura portuguesa – a castanha.
Quem não tiver oportunidade de acender uma fogueira, pode sempre recorrer ao forno de casa, ao micro-ondas e até à air-fryer, já que não faltam receitas adaptadas a todos os gostos. O importante é que as castanhas sejam quentes e boas, quentinhas!