Luís Mário Nunes

CEO da ComprarCasa Portugal

Opinião

Responsabilidade ambiental no imobiliário

20 Setembro, 2023 · 07:00

As preocupações com o meio ambiente e a sua preservação para as gerações futuras ganharam relevo nas últimas décadas do século passado, tendo sido realizados esforços para a integração da vertente ambiental na agenda política internacional, culminando com o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável e, mais recentemente, com a trilogia “Environment, Social and Governace – ESG”.

O surgimento deste conceito, juntamente com o aumento da consciência ambiental, tem vindo a modificar a forma como as organizações encaram o papel da gestão, levando-as à implementação de boas práticas de gestão relacionadas com ambiente, através da aplicação de princípios e instrumentos de Política de Ambiente. Esta modificação das práticas de gestão não passou ao lado do sector imobiliário que ao longo do tempo tem adquirido importância em práticas de responsabilidade ambiental.

O desenvolvimento dos mercados, tanto a nível industrial como a nível de serviços, resultantes da globalização, aumentou exponencialmente, o que trouxe inevitavelmente consequências nefastas para o meio ambiente. Nesta sequência, as preocupações ambientais começaram a aumentar, centrando-se atualmente entre os desafios mais sérios que afetam o bem-estar da sociedade a nível mundial.

Foram realizados vários esforços a nível internacional para que o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável ganhassem um lugar de destaque no seio da agenda política internacional, surgindo, no final dos anos oitenta, aquela que ficou conhecida como a primeira definição de desenvolvimento sustentável: “é aquele que busca as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender as suas próprias necessidades”.

Nas últimas décadas este conceito tem marcado as linhas orientadoras da política e da ética para lidar com a crise ecológica e social que atravessa a sociedade e o mundo, iniciando aquilo que todos conhecemos como “Pegada Ecológica”.

A partir de determinada altura, a crescente preocupação em torno da sustentabilidade tem vindo a modificar e a evoluir a forma como as organizações encaram o papel da gestão, levando-as à implementação de boas práticas de gestão relacionada com ambiente.


"A consciência ambiental associada à consciência cívica das ações dos players do setor imobiliário estão e são cada vez mais valorizadas pelo cidadão/consumidor."


Esta modificação das práticas de gestão não passou ao lado do setor terciário, onde se destacam o setor imobiliário e o setor bancário e as relações entre ambos.

Os riscos de biodiversidade estão associados à perda da oferta de serviços ambientais por parte da natureza. A perda desses serviços ambientais está intimamente ligada ao desenvolvimento de setores económicos com fortes impactos nos ecossistemas.

De acordo com o FTSE4GOOD (índice desenvolvido para medir o desempenho de empresas que demonstram fortes práticas ambientais, sociais e de governança), os setores com uma exposição elevada aos riscos provenientes da biodiversidade são a Construção, materiais associados e imobiliári0, eletricidade, entre outros.

Fica claro que o setor imobiliário tem um papel muito importante na Responsabilidade Ambiental, demonstrando riscos diretos provenientes de transações de imóveis (construções ou simplesmente terrenos) que podem ter sérios impactos ambientais ou não estarem a cumprir com a legislação ambiental em vigor; e eventuais riscos reputacionais, uma vez que a consciência ambiental associada à consciência cívica das ações dos players do setor imobiliário estão e são cada vez mais valorizadas pelo cidadão/consumidor.

Desde há cerca de uma década que não se podem efetuar transações imobiliárias no mercado nacional sem que exista o Certificado Energético do bem em causa; no fundo, pretende-se uma transparência total no mercado que permita a qualquer consumidor avaliar a capacidade energética de um determinado imóvel antes da tomada de decisão sobre a sua aquisição ou arrendamento. Em tese, quem vai adquirir ou arrendar um determinado bem pode e deve ponderar e decidir com base nas potenciais poupanças futuras de consumos energéticos.


"Os profissionais do setor têm a responsabilidade de valorizar os produtos imobiliários que defendam e respondam pelo ambiente".


Também no que respeita a novas construções, o papel do setor foi devidamente acautelado por meio administrativo (leia-se, legislativo). Assim, novos projetos construtivos passaram a ter de se basear nas melhores técnicas e soluções que garantissem que o produto final seria de classe superior no âmbito da sustentabilidade.

Os métodos construtivos têm conhecido consideráveis desenvolvimentos mediante a utilização de técnicas e produtos “amigos do ambiente”, desde as simples lâmpadas Led até às construções em aglomerado de cortiça e/ou madeira, potenciando a construção sustentável.

Contudo, o papel do setor imobiliário na sustentabilidade e responsabilidade ambiental não se pode resumir a cumprir com a legislação em vigor.

A nós, Ser Humano, compete assumir o desígnio da sustentabilidade e procurar defender os produtos mais economicamente sustentáveis, seja como consumidor (comprador), seja como player do mercado (promotor ou mediador imobiliário).

Os profissionais do setor têm a responsabilidade de valorizar os produtos imobiliários que defendam e respondam pelo ambiente, sabendo evidenciar essa sua diferenciação face a outros pouco “amigos” do ambiente.

Acreditamos que, face à sua proximidade em termos comerciais, o setor imobiliário e o setor financeiro terão uma importante palavra a dizer com vista a, em conjunto, criarem ferramentas que alavanquem as melhores e mais sustentáveis ofertas imobiliárias.

Condições preferenciais para clientes preferenciais, mas também para produtos preferenciais.

No fundo, saibamos perceber que, no nosso setor, não vale tudo!

 

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