Patrícia Santos
Chairwoman da Zome
Chairwoman da Zome
A habitação continua a ser um dos maiores desafios em Portugal, espelhando uma realidade que afeta muitos países da União Europeia. Entre 2010 e 2022, os preços das casas na UE subiram 47%, enquanto as rendas aumentaram 18%, segundo o Eurostat. Em Portugal, o cenário não é diferente, com um aumento significativo no custo da habitação a par com a dificuldade de muitos jovens e famílias em aceder a uma casa própria ou arrendada.
Segundo a OCDE, 1 em cada 8 jovens portugueses entre os 20 e 29 anos ainda vive em casa dos pais, um reflexo claro das dificuldades no acesso à habitação. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, em 2023, os preços das casas subiram 8,6%, muito acima do aumento real da remuneração média mensal dos trabalhadores, que foi de apenas 2,3%.
Esta disparidade entre a valorização imobiliária e o crescimento dos salários acentua o desafio de muitos jovens e famílias em garantir uma habitação acessível, num mercado onde o custo de vida continua a superar os rendimentos disponíveis.
Com a escassez de novas construções, prevista uma diminuição de 8,5% no número de novas habitações para 2024, segundo o Instituto Alemão de Previsões Económicas (Ifo), e uma pressão crescente sobre os preços das casas, a União Europeia tomou recentemente medidas que podem trazer algum alívio. Pela primeira vez, foi nomeado um comissário para a Habitação, Dan Jørgensen, que terá como missão principal atrair investimento e fomentar a redução de custos na construção.
"Esta disparidade entre a valorização imobiliária e o crescimento dos salários acentua o desafio de muitos jovens e famílias em garantir uma habitação acessível, num mercado onde o custo de vida continua a superar os rendimentos disponíveis."
Embora a UE não tenha competências diretas na área da habitação, o plano de Jørgensen foca-se na criação de um Plano Europeu para Habitação Acessível, com o objetivo de fornecer assistência técnica aos Estados-membros e desbloquear financiamento público e privado. Este plano poderá ser decisivo para Portugal, onde a escassez de oferta e a pressão nos preços continuam a limitar o acesso à habitação.
Uma das áreas críticas de atuação será a redução de custos na construção, que pode beneficiar tanto promotores imobiliários como compradores. Nos últimos anos, o mercado português sofreu com a escalada dos preços dos materiais de construção, mas dados recentes mostram que, desde 2023, os custos de materiais como o aço e a madeira começaram a estabilizar ou até a cair ligeiramente, após o pico registado durante a pandemia. Esta evolução pode abrir espaço para projetos mais acessíveis em termos de custos.
Por outro lado, o desafio agora centra-se na falta de mão-de-obra qualificada. Com a recuperação económica e o crescimento da procura no setor, a escassez de trabalhadores especializados está a exercer pressão sobre os salários, o que mantém elevados os custos de construção. Este é um problema que Portugal enfrenta e que as medidas europeias também poderão ajudar a mitigar, incentivando a formação e a atração de mão-de-obra qualificada.
"A nomeação de um comissário europeu dedicado à habitação é uma oportunidade para Portugal alinhar as suas políticas nacionais com as diretivas europeias, maximizando os benefícios em termos de financiamento e inovação."
A nomeação de um comissário europeu dedicado à habitação é uma oportunidade para Portugal alinhar as suas políticas nacionais com as diretivas europeias, maximizando os benefícios em termos de financiamento e inovação.
A aposta em soluções inovadoras, como a construção modular e mais sustentável, bem como o uso eficiente do stock habitacional existente, serão fundamentais para responder à procura crescente. Se Portugal conseguir alinhar os seus esforços com os da UE, poderá começar a criar um mercado imobiliário mais acessível e equilibrado.
Com a implementação das medidas propostas pelo novo comissário europeu para a Habitação, há esperança de que, tanto em Portugal como na restante Europa, se possam começar a ver progressos significativos na criação de habitação acessível. O sucesso dependerá, no entanto, de uma colaboração eficaz entre as políticas nacionais e as iniciativas europeias, garantindo que o investimento seja canalizado para onde é mais necessário e que o setor da construção seja capaz de responder às exigências do mercado.
Fontes: Eurostat, OCDE, Instituto Nacional de Estatística e Ifo.