Ricardo Guimarães

Diretor da Confidencial Imobiliário

Opinião

Evitar aumentar a margem dos promotores é a chave para aumentar a margem dos promotores

1 Julho, 2024 · 14:15

O programa eleitoral com que a AD se apresentou a sufrágio previa explicitamente a «aplicação de IVA à taxa mínima de 6% nas obras e serviços de construção e reabilitação e alargamento da dedutibilidade». Tendo ganho as eleições, a mesma coligação, agora em sede de Programa de Governo, manteve a mesma linha de orientação, reafirmando desta feita a «aplicação de IVA à taxa mínima de 6% nas obras e serviços de construção e reabilitação e alargamento da dedutibilidade», ou seja, a mesma coisa. Num caso e noutro, novamente de forma reiterada, delimitando essa medida a «imóveis destinados a habitação permanente independentemente da localização em ARU». Sem mais.

A redução do IVA na construção não será certamente a tal bala de prata tão incessantemente procurada. No entanto, é uma medida que alinha no sentido da redução dos custos de investimento a qual, se dermos por correta a premissa de que o grande motivo de pressão do mercado é a falta de oferta (acessível), é a única que pode gerar resultados reais no combate à crise de acesso à habitação.

Há muitas formas de reduzir custos e viabilizar o lançamento de oferta acessível. Em abono da verdade, estão todas cobertas por medidas incluídas no novíssimo pacote “Construir Portugal”. Um programa que merece um elogio por fazer um diagnóstico correto e prever medidas nesse e noutros domínios essenciais.


"A redução do IVA na construção não será certamente a tal bala de prata tão incessantemente procurada. No entanto, é uma medida que alinha no sentido da redução dos custos de investimento..."


Há muitas formas de reduzir custos e viabilizar o lançamento de oferta acessível. Em abono da verdade, estão todas cobertas por medidas incluídas no novíssimo pacote “Construir Portugal”. Um programa que merece um elogio por fazer um diagnóstico correto e prever medidas nesse e noutros domínios essenciais.

No licenciamento, prevê aperfeiçoar o Simplex num prazo de 90 dias. No preço dos terrenos, prevê alterar a lei dos solos em 60 dias e, em 90 dias, criar um bónus construtivo. São objetivos ambiciosos e críticos. No entanto, são medidas para futuro, pensadas para viabilizar novos projetos que venham a ser desenhados para vir para o mercado, não afetando os projetos que estão já em carteira, prontos para avançar, capazes de entregar no “curto-prazo” oferta no mercado.

Os dados da Confidencial Imobiliário, relativos ao pipeline imobiliário, mostram que há um aumento nas intenções de investimento. De janeiro a abril de 2024 foram alvo de pré-certificado energético quase 5 mil fogos mensais, 15% acima da média de 2023. No entanto, os dados do INE mostram que no mesmo período o número de fogos licenciados, ou seja, cuja obra vai iniciar-se, caiu 9%. Há, portanto, cada vez mais intenções de investimento, mas há cada vez menos lançamentos efetivos, aumentando o fosso entre ambos.


"Há, portanto, cada vez mais intenções de investimento, mas há cada vez menos lançamentos efetivos, aumentando o fosso entre ambos."


No acumulado dos últimos 12 meses, entraram em carteira mais de 53 mil fogos, tendo sido licenciados menos de 29 mil, ou seja, somente 53%. O adiamento da entrada em obra é uma consequência do aumento das dificuldades de mercado, agravadas pela tenaz dos custos de financiamento que simultaneamente oneram a promoção e retiram rendimento aos compradores. Somente, como se vê, os projetos dirigidos à gama alta são imunes a esses fatores e prosseguem, levando à conclusão equívoca de que o mercado só constrói “para ricos”.

Nesse pacote, a única medida prevista passível de afetar a carteira de projetos prontos para construir é a redução do IVA. No entanto, ao contrário das demais, prevê-se que saia «até ao final de legislatura». Isso porque está em modelação para evitar a sua apropriação pelos promotores e pelos compradores “ricos”.

Ora, se a entrada no mercado dos 47% de projetos adiados é uma emergência, se muitos desses fogos talvez só sejam viáveis com o IVA a 6% e os outros, os que têm margem, podem esperar até ao dia em que a medida seja efetivada, torna-se claro como essa redução se tornou essencial para aumentar a oferta (acessível).

Mesmo que os “first movers” se apropriem de parte da margem, esse é um risco que temos de correr para que a oferta surja e nivele os pratos da balança, não havendo alternativa para promover o equilíbrio de preços.

Na realidade, nesta fase do mercado, qualquer facto que leve à travagem do lançamento de nova oferta será um estímulo ao aumento da margem dos promotores com oferta em venda. Assim, paradoxalmente, evitar aumentar a margem dos promotores é a chave para aumentar a margem dos promotores…

Destaques Casa Yes

Profissionais

Recuperação das vendas anima operadores

Expectativas de promotores e mediadores melhoraram significativamente no início de 2024.

Créditos

Novo crédito à habitação atinge em outubro máximo de dez anos

Jovens até aos 35 anos representam quase metade dos novos contratos.

Habitação

Novos pedidos de licenciamento de habitação até outubro superam total de 2023

Há pedidos de licenciamento para um total de 53.790 novos fogos, em Portugal Continental.