Carlos Santos
CEO Zome
Opinião
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Portugal vive um paradoxo gritante. Somos um país com uma das maiores percentagens de edifícios antigos da Europa — mais de 60% das habitações foram construídas antes de 1990 — e, ainda assim, enfrentamos uma escassez dramática de habitação acessível. A resposta não está apenas em levantar novas paredes, mas em dar nova alma às que já existem. Reabilitar não é apenas construir de novo — é reconstruir com consciência, visão e propósito.
Os nossos avós erguiam casas que desafiavam o tempo. Hoje, o desafio é outro: construir respeitando o tempo — o planeta, os recursos, as gerações que vêm a seguir.
A sustentabilidade deixou de ser um conceito bonito em relatórios ou campanhas de marketing. É uma exigência vital, um ponto de viragem. O modo como Portugal abraçar esta transformação definirá não só o futuro das nossas cidades, mas também a dignidade e qualidade de vida de quem nelas habita.
O equilíbrio entre necessidade e sustentabilidade será o grande teste do setor. Continuaremos a ver construção nova — claro — mas a reabilitação urbana vai dominar o palco. Reabilitar um prédio, um quarteirão, um bairro, não é apenas criar mais oferta: é revitalizar comunidades, recuperar história e reduzir impacto ambiental.
"Reabilitar um prédio, um quarteirão, um bairro, não é apenas criar mais oferta: é revitalizar comunidades, recuperar história e reduzir impacto ambiental."
A Europa não deixa margem para dúvidas. A Diretiva Europeia de Eficiência Energética dos Edifícios (EPBD) impõe metas claras: até 2050, o parque edificado deverá ser neutro em carbono. Isso significa transformar o velho em novo — casas que consomem menos, poluem menos e valem mais.
Esta transição já está em marcha. Quem constrói está a repensar materiais, processos e soluções. Vemos edifícios com materiais recicláveis, energia renovável e gestão inteligente de consumo. Mas a mudança não é apenas do lado da oferta — é também do lado da procura.
Os compradores e investidores estão cada vez mais atentos. Procuram eficiência, certificações verdes, responsabilidade ambiental. E o mercado responde: imóveis sustentáveis já se valorizam entre 5% e 15% acima dos convencionais. Isto não é moda — é economia inteligente.
O futuro vai ser implacável para quem não se adaptar. A sustentabilidade deixará de ser um “diferencial” e passará a ser a condição mínima para sobreviver no mercado. Ou evoluímos, ou ficamos para trás.
"O futuro vai ser implacável para quem não se adaptar. A sustentabilidade deixará de ser um “diferencial” e passará a ser a condição mínima para sobreviver no mercado. Ou evoluímos, ou ficamos para trás."
A tecnologia será o motor desta revolução. A construção modular, a digitalização, os materiais inteligentes e as novas técnicas de isolamento estão a acelerar uma transformação inevitável. São ferramentas que cortam custos, reduzem desperdício e aumentam a eficiência. Mas nenhuma inovação vale sem pessoas preparadas para a mudança.
Precisamos de profissionais com formação técnica e consciência ambiental. Precisamos de bancos que vejam o verde como segurança e retorno, não como risco. E precisamos de um Estado que simplifique, incentive e inspire quem quer fazer diferente.
O futuro da construção será verde, digital e humano. Portugal seguirá esse caminho — não porque tem de o fazer, mas porque não pode permitir-se ficar parado.
Quem entender isto primeiro estará, simplesmente, um passo à frente.
Construir de forma sustentável não é sobre materiais. É sobre legado.
É sobre deixar um país mais equilibrado, mais belo e mais justo para quem vem depois de nós.
É, no fundo, honrar o espírito do antigamente — mas com a sabedoria do futuro.