Ricardo Costa

CEO da LUXIMOS Christie´s International Real Estate

Opinião

Apanha-me se puderes: o impacto Trump no imobiliário europeu

24 Julho, 2024 · 08:40

Parece um filme, mas não é. Nas eleições americanas, Donald Trump lidera no campeonato das polémicas, dos escândalos e da ofensa. Lidera também nas intenções de voto, para gáudio de uma parte dos norte-americanos e horror dos restantes. Na Europa, treme-se e teme-se as consequências de uma (re)eleição de Trump.

Conseguirá o mega-empresário, mais uma vez, sobreviver ao furacão da justiça e ser eleito Presidente dos Estados Unidos? E, nesse cenário, seria de esperar algum impacto no mercado imobiliário europeu?

Donald Trump é, em primeiro lugar, um homem de negócios e um grande promotor imobiliário, com uma reputação global de investidor e homem de negócios como nenhum outro presidente americano alguma vez teve. Se for eleito Presidente dos EUA, não será, por isso, de esperar que venha a adotar políticas que fragilizem a economia norte-americana e, em particular, o setor imobiliário. Antes pelo contrário, Donald Trump utilizará a sua influência, conhecimentos e faro empresarial para pôr em prática políticas que favoreçam o sector imobiliário do seu país e que incentivem investidores nacionais e estrangeiros a apostarem na economia americana.


"Muitos investidores no mercado imobiliário europeu vão dar passos mais cautelosos, preferindo adiar os seus investimentos ou optar por ativos que considerem muito seguros."


Na Europa o cenário poderá ser diferente. Trump sabe que não aquece o coração da Europa. Do lado de cá do Atlântico, Trump é visto como um candidato autoritário, destrutivo e ameaçador para a democracia e para o mundo. Repete que não defenderá a Europa e que, com ele, os EUA deixarão de integrar a NATO. Ora, o primeiro impacto no mercado imobiliário europeu será precisamente o clima de incerteza económica. A possível eleição de Donald Trump inundará os mercados globais de dúvidas devido às suas políticas económicas e comerciais isolacionistas e imprevisíveis. Muitos investidores no mercado imobiliário europeu vão dar passos mais cautelosos, preferindo adiar os seus investimentos ou optar por ativos que considerem muito seguros.

Por outro lado, a política monetária dos EUA, sob o domínio de Trump, poderá afetar o mercado imobiliário europeu, na medida em que um aumento nas taxas de juros, pelo Sistema de Reserva Federal americano, poderá implicar ajustes por parte do Banco Central Europeu (BCE), afetando diretamente hipotecas e financiamentos no mercado imobiliário.

Contudo, o possível regresso de Trump à Casa Branca poderá também trazer ventos favoráveis à Europa. Tal como aconteceu em 2016, a eleição de Trump poderá fazer com que Portugal seja um destino de eleição para americanos que não querem viver num país presidido por Donald Trump. Na verdade, nos últimos oito anos temos assistido a um crescimento contínuo de norte-americanos a optarem por viver ou investir em Portugal.


"Com um dólar forte o dinheiro “rende mais” aos americanos e torna os investimentos imobiliários europeus mais atrativos para esta nacionalidade que está encantada com Portugal."


Por outro lado, eventuais flutuações cambiais podem atrair investimento americano, na medida em que alterações na política comercial e fiscal norte-americana podem afetar o valor do dólar em relação ao euro. Com um dólar forte, o dinheiro “rende mais” aos americanos e torna os investimentos imobiliários europeus mais atrativos para esta nacionalidade que está encantada com Portugal.

Não raras vezes, assistimos à forma como Donald Trump alimenta o conflito racial e a violência, o que favorece o que muitos já chamam “emigração preventiva” de cidadãos norte-americanos que querem viver longe da violência e do racismo (ainda ninguém esqueceu a morte de George Floyd, assassinado em 2020 por um polícia em Minneapolis), do retrocesso civilizacional (há 14 estados que proíbem totalmente o direito ao aborto), das alterações climáticas e dos fogos (em 2023, os incêndios destruíram 80 milhões de hectares de solo norte-americano) e da instabilidade política esperada já com a campanha para as Presidenciais de 2024 (e sobre a qual assistimos, nos últimos dias e quase em direto, a episódios preocupantes e lamentáveis).

Acresce que Portugal é a porta de entrada da Europa. Quando olhamos para o outro lado, a seguir ao mar, somos o país vizinho dos norte-americanos e, estrategicamente, temos de reforçar essa relação e apostar na captação desses clientes. O mercado norte-americano é prioritário.

Donald Trump faz lembrar o filme lendário de Steven Spielberg que tem o jovem, bonito e destemido Leonardo DiCaprio como protagonista. Catch Me If You Can é baseado numa história real, entre a comédia e o terror, de uma personagem brilhante e bem sucedida em diversas profissões, desde médico e advogado ou a co-piloto de uma grande companhia de aviação. A missão do FBI é capturar Frank Abagnale (DiCaprio) e entregá-lo à justiça, mas Frank está sempre um passo à frente e consegue sempre o que quer (até perto do final do filme, altura em que é detido pelo FBI, julgado e condenado por diversas fraudes).

Assim é Donald Trump. Uma áurea de impunidade e irresponsabilidade, a par de uma força e autoconfiança inabaláveis, que parecem acompanhá-lo nas suas aventuras. O próprio chegou a afirmar numa ação de campanha que tem “os eleitores mais leais. Alguma vez vocês viram algo assim? Eu poderia parar na 5.ª Avenida, disparar contra as pessoas e não perderia eleitores“. E tem razão. Trump parece ter uma legião de fãs que o venera e segue cegamente.

A biografia de Abagnale, o protagonista real que inspirou o filme Apanha-me se puderes, fascinou milhões de leitores, inclusive o próprio Spielberg. Estaremos perante o guião de um novo filme?

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