Passeios
Jardins com história para receber a primavera
Abril 6, 2023 · 8:00 am
Imagem cedida por Jardim Botânico da Universidade do Porto – Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto
Um jardim é feito de plantas, arbustos e árvores. Os botânicos conhecem-lhes a família, o género e a espécie. Os restantes, os que que emperram nos nomes latinos e nada sabem sobre Lineu, também apreciam um belo jardim em mil tons de verde. Entre cantos e recantos, guardam-se memórias do que os levou a germinar. Descubra estes três jardins com história para receber a primavera.
Jardim Botânico do Porto: a inspiração de Sophia

Imagem cedida por Jardim Botânico da Universidade do Porto – Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto
O Jardim Botânico do Porto, situado na Rua do Campo Alegre, estende-se ao longo de quatro verdejantes hectares. As suas origens remontam ao início do século XIX, quando um fabricante de chapéus comprou vários terrenos criando a então chamada Quinta Grande.
A propriedade passou por várias mãos, até que, em 1895, é adquirida por um comerciante de vinho do Porto e sua mulher, João Henrique e Joana Andresen, que terminam a remodelação do palacete e dos seus jardins. Talvez os Andresen não imaginassem quão inspiradora viria a ser a então renomeada Quinta do Campo Alegre.
Eram avós de dois ilustres escritores, Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruben A. As memórias das brincadeiras de infância e juventude dos dois primos nesses jardins serviriam como cenário e inspiração para diversos textos, contos e poemas. “Aquele mundo maravilhoso”, descrevia Ruben, onde o rapaz dava longos passeios de bicicleta, entre rododendros e cameleiras, “jardins de rosas, begónias de mil cores, azáleas e tantas outras flores “.
No “território fabuloso” das palavras de Sophia, entre araucárias centenárias e tílias altíssimas, podem descobrir-se espécies exóticas, lagos e recantos. Quem estiver perdido entre bosques e alamedas, talvez encontre a estátua que inspira “O Rapaz de Bronze” ou o Jardim dos Anões d’”A Floresta”.
O Estado Português comprou a quinta em 1949 e, pouco depois, a Universidade do Porto instalou aí o Jardim Botânico. Atualmente, inclui a Casa Andresen, que alberga a Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, e, na área envolvente, diferentes pequenos jardins com ambientes distintos que merecem um passeio demorado. Nenhuma visita estará completa se não nos detivermos a contemplar as altas sebes de camélias, que valeram vários prémios e distinções em reconhecimento do valor da coleção destas flores.
Jardim Botânico da Ajuda: o quintal dos príncipes

Jardim Botânico da Ajuda
O Jardim Botânico da Ajuda, o mais antigo de Portugal, foi criado em 1768 e estende-se ao longo de três hectares e meio. Chegou a albergar mais de 5 mil espécies botânicas, estando hoje integrado no Instituto Superior de Agronomia.
Depois do catastrófico terramoto que arrasou Lisboa, em 1755, D. José jurou que não voltaria a dormir numa casa de pedra e cal. A família real instalou-se, então, na “Quinta Real de Cima”, na encosta da Ajuda, onde é edificada a “Real Barraca”, um palácio em madeira que acabará destruído por um incêndio, em 1794.
Antes disso, ainda em 1765, o Marquês de Pombal convidou o naturalista Domenico Vandelli para concretizar o projeto pioneiro do monarca: a construção de um jardim botânico. Além de reunir milhares de espécies, este integrava um museu, um laboratório de história natural e ainda um espaço para o desenho científico de espécies. Serviu ainda para a educação dos príncipes, D. José e D. João (futuro D. João IV), netos de D. José.
Quando é edificado um novo palácio (o atual Palácio da Ajuda), o Jardim perde a ligação à residência que viria a ser restabelecida mais tarde quando, após as invasões napoleónicas e a fuga para o Brasil, a família real retorna à Ajuda. Para tal é edificado um passadiço de ferro forjado sobre a atual Calçada da Ajuda.
Atualmente, o Jardim Botânico da Ajuda, com os seus terraços talhados nas encostas com vista para o Tejo, merece uma visita, sobretudo entre maio e junho se quisermos apreciar a beleza e os aromas dos jacarandás em flor.
Jardim Botânico de Coimbra, património da Humanidade

Imagem cedida por Jardim Botânico da Universidade de Coimbra - Pórtico de D. Maria I
O Jardim Botânico de Coimbra, que ocupa hoje cerca de 13 hectares, é o único deste leque inscrito como Património da Humanidade, já que integrou a candidatura do sítio “Universidade de Coimbra, Alta e Sofia” reconhecida em 2013 pela UNESCO. A história deste jardim confunde-se com a da própria Universidade: criado em 1772, por iniciativa do Marquês de Pombal, nasceu já com a missão de complementar o estudo da História Natural e Medicina e investigar, sobretudo, plantas que pudessem ter uso medicinal.
O italiano Domenico Vandelli, que fundara, anos antes, o Real Jardim Botânico da Ajuda, fica responsável pelo novo jardim da Universidade, instalado num terreno maioritariamente cedido por frades beneditinos. É da Ajuda que chegam, por mar, as primeiras plantas e árvores, porém, esta será uma montra luxuriante de espécies de todo o mundo.
Os sucessivos diretores ajudam a moldar e a enriquecer o espaço. Já no século XIX é criado um banco de sementes, que ainda hoje se mantém como reserva das espécies para que estas estejam salvaguardadas no futuro.
Programe uma visita e deslumbre-se com árvores centenárias no recanto tropical, passeie no maravilhoso bambuzal, nas estufas quente e fria, aprecie a beleza das esculturas e a arquitetura das construções na zona da mata. Até aos dias atuais, mantém-se vivo o espírito da criação do Jardim Botânico de Coimbra: é um repositório de diversidade vegetal que promove o conhecimento científico e o partilha com a comunidade.