Habitação

Garantia pública para obter 100% do crédito ameaça critério da taxa de esforço

Novembro 14, 2024 · 9:57 am
Foto de Daniel Martins no Pexels

A garantia pública no crédito à habitação vai ajudar quem não têm dinheiro para a ‘entrada’ da casa, mas representa prestações mensais mais elevadas e pode ameaçar a regra da taxa de esforço, avisam profissionais do setor e a Deco.

“A medida que vem garantir que o empréstimo possa ir até 100% do valor da casa irá ajudar os jovens que não tenham poupanças, mas isso também significa que a prestação do empréstimo vai ser mais alta, o que implica maior capacidade de endividamento”, referiu à Lusa o presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), Paulo Caiado.

Após algum atraso face ao calendário inicialmente previsto, a garantia pública no crédito à habituação (uma medida desenhada com o objetivo de ajudar os jovens na compra de casa própria) estará operacional até ao final do ano, entrando em vigor “nos últimos dias de dezembro”, segundo precisou recentemente no parlamento o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento.

Taxa de esforço não deve ultrapassar os 50%

A garantia é dirigida a pessoas entre os 18 e os 35 anos, cujos rendimentos não ultrapassem o 8.º escalão do IRS (81.199 euros de rendimento coletável anual), com as regras a determinarem que o valor da transação não pode exceder os 450.000 euros e que a garantia do Estado não pode ultrapassar 15% do valor, destinando-se a viabilizar que a instituição de crédito financie a totalidade do preço do imóvel.

Ao proporcionar o acesso a um empréstimo equivalente a 100% do valor da avaliação do imóvel, a garantia pública abre, assim, caminho para ser ultrapassado um dos entraves que alguns jovens enfrentam: a ausência de uma poupança para a ‘entrada’ da casa e que colmate os 90% ou 85% máximos de crédito que os bancos habitualmente concedem.

Só que a este limite entre o valor do crédito e o da avaliação, os bancos – seguindo as recomendações do Banco de Portugal- impõem outras, nomeadamente a da taxa de esforço (ou o rácio DSTI, rácio entre o montante total das prestações mensais de todos os empréstimos do cliente e o seu rendimento mensal líquido) que não deve, por regra, ultrapassar os 50%.

Medida com “impacto limitado”

Uma situação que leva Nuno Rico, economista da Deco, a antecipar que a garantia pública terá um “impacto limitado” para que “não choque” com as regras macroprudenciais do Banco de Portugal, apontando o ‘teto’ dos 50% de taxa de esforço como a regra que possivelmente limitará mais o “alcance da garantia pública”.

É que a subida do valor do empréstimo de 85% ou 90% para 100% da avaliação vai fazer com que a prestação mensal do crédito seja também mais elevada, exigindo que os jovens que estão a comprar casa tenham um salário mais alto.

A medida, refere Paulo Caiado, é “importante”, tal como a que confere aos jovens isenção total ou parcial do IMT e do Imposto do Selo, mas o presidente da APEMIP salienta que “também é importante trazer para o mercado casas a preços significativamente mais baixos”.

De que forma? “Com o Estado a conceder isenções fiscais e terrenos e a exigir em troca preços controlados”, refere.

Garantia pública pode aumentar spread

Também Nuno Rico salientou, em declarações à Lusa, a necessidade de as pessoas terem algumas reservas financeiras quando avançam para a compra de casa para não necessitarem de pedir a totalidade do capital, acentuando que o “mais saudável” é ter uma poupança de “pelo menos 20% do valor”.

“Nos últimos dois anos devido à subida dos juros, e pela subida do preço das casas, temos tido um número maior de consumidores que se queixam que não passam desta fase [da avaliação]”, refere, acentuando que nem sempre o valor da avaliação acompanhou a subida dos preços.

Ana Paula Silva, da Century 21, por seu lado, disse à Lusa não ter muitos casos de clientes que tenham visto o crédito ser recusado por o valor da avaliação ser inferior ao necessário, mas tem conhecimento de situações em que ocorreu.

Sobre a utilização da garantia pública, alertou que esta poderá também agravar o ‘spread’, o que torna o empréstimo mais caro ao longo da sua maturidade.

Fonte: Lusa

Profissionais

Venda de casas dispara no final de 2024

Os preços continuam a crescer, mas registou-se um abrandamento.

Impostos

IMT Jovem e Imposto de Selo geraram poupança de 62 milhões de euros

Ministro das Finanças nega que medida tenha levado a um aumento de preços das casas.

Habitação

Mais de 13 mil pessoas em situação de sem-abrigo em Portugal

Das pessoas sinalizadas em 2023, 7.705 viviam na situação de sem-teto, enquanto as restantes 5.423 não tinham casa.

Leia mais

Habitação

Parlamento aprovou 302 “novas freguesias”

Medida terá de ser promulgada pelo Presidente da República.

Profissionais

Venda de casas dispara no final de 2024

Os preços continuam a crescer, mas registou-se um abrandamento.

Habitação

Taxa de esforço impede acesso de jovens à garantia pública

Os bancos já têm milhares de pedidos de jovens para crédito habitação com garantia do Estado

Habitação

Montenegro afirma que “em princípio” nenhuma casa do PRR será construída com nova lei dos solos

Primeiro-ministro defendeu que legislação está elaborada “para garantir transparência e legalidade”.