Profissionais
“Existem várias crises, mas não da habitação”
Julho 5, 2024 · 2:18 pm
Convenção APEMIP/IMOCIONATE 2024
A Convenção APEMIP/IMOCIONATE 2024 decorreu esta quinta-feira, em Lisboa, reunindo centenas de profissionais do setor imobiliário numa edição dedicada ao tema da Habitação. As tendências dos mercados, os desafios do setor da mediação e o impacto da transformação digital estiveram em análise.
O Presidente do IMPIC, Fernando Batista, presidiu à abertura do evento, na sua segunda edição, conduzido pela jornalista da SIC Rita Neves.
Estrangeiros continuam a investir
No painel dedicado aos “Mercados e Tendências Internacionais”, o presidente do Sistema Cofeci-Creci, do Brasil, João Teodoro, afirmou que as últimas estatísticas indicam que há 250 mil brasileiros com propriedades em Portugal. “A movimentação financeira tem sido altamente satisfatória, são relações bastante profícuas”, acrescentou, considerando que está a haver um movimento de retoma do investimento, depois de um abrandamento no período pós-eleições brasileiras.
No mesmo sentido, o broker norte americano Anthony Domathoti considera que os próximos 18 meses vão ser determinantes e acentuarão a tendência já evidente de interesse crescente dos investidores norte-americanos no mercado nacional. “Portugal é muito atrativo para os investidores”, disse, salientando que Lisboa, Porto e Algarve são os mercados mais procurados e pelo menos “até 2026” o interesse vai continuar a aumentar.
Patrícia Barão, Head of Residential da JLL, recorda que, apesar do interesse de estrangeiros, o mercado doméstico continua a ser responsável pela larga maioria das transações. No primeiro trimestre do ano, apenas 6,2% das transações no mercado residencial foram realizadas por compradores estrangeiros.
“Nós vivemos num país incrível! Além do imobiliário de alta qualidade, temos um custo de vida muito baixo e uma boa qualidade de vida”, destacou, sublinhando que o problema são os baixos salários dos portugueses, quando comparados com os dos estrangeiros.
“Os preços das casas em Portugal aumentaram 49% nos últimos 5 anos. É um aumento muitíssimo relevante. Em Londres, Paris, Milão não temos esses aumentos, temos cá porque a oferta não acompanhou a procura”, afirmou Patrícia Barão.
O diagnóstico, várias vezes repetido por diferentes oradores, não deixa dúvidas. O país não está a produzir casas suficientes para um mercado que continua a ser dinâmico e atrativo, por isso, a tendência é para que os preços continuem a aumentar.
Casa Yes integra 113 acionistas do setor
Na apresentação dedicada ao portal imobiliário CasaYes, Paulo Caiado, Presidente da APEMIP e também Presidente do Conselho de Administração do CasaYes, ressaltou a importância deste projeto que foi capaz de juntar o setor para melhor servir os clientes, apostando na qualidade e segurança.
“Os dados relativos a imóveis têm um valor comercial incomensurável. Resultam do nosso trabalho e investimento durante anos e o Casa Yes permite-nos valorizar estes dados e valorizar o nosso património digital”, afirmou.
Paulo Caiado sublinhou ainda que a “capacidade de diálogo” entre as empresas levou a que se unissem no portal da mediação. O Casa Yes congrega agora 113 acionistas, incluindo as maiores redes e agências a operar em Portugal, numa união sem precedentes no setor imobiliário.
Rui Barbosa, CEO da Devscope, empresa responsável pelo Casa Yes, destacou que qualidade tecnológica do portal imobiliário, o primeiro a integrar a inteligência artificial (IA) na pesquisa de imóveis, que respeita os dados dos profissionais da mediação e faz deles uma mais-valia.
“Um portal como o Casa Yes é uma ferramenta de valorização para o vosso negócio, porque há um conjunto de informação relativo aos imóveis que só vocês [profissionais da mediação] têm”, afirmou. E acrescentou: “Estou orgulhoso pela vossa classe e pelo passo que deram. (…) São 113 acionistas que estão unidos e cientes do valor da vossa atividade, porque estão preocupados e a valorizam”.
Crise no acesso à habitação
No painel dedicado ao debate sobre a Habitação, a divergência partiu logo da colocação da expressão “crise da habitação”, com António Ramalho, consultor internacional, a defender que “existem várias crises, mas não da habitação”. “O que falta são casas, devemos ter medidas para desenvolver a produção”, argumentou.
Num país onde 63% da população tem habitação própria, 60% das quais integralmente pagas, não se pode considerar haver uma crise habitacional, avançou. Mesmo depois da subida das prestações mensais dos que têm créditos à habitação contratados, o incumprimento fixou-se nos 0,3%.
Pedro Siza Vieira, advogado, também considera haver “uma crise no acesso à habitação”, uma dificuldade de compatibilizar os rendimentos das famílias com o preço das casas. O problema, defendeu, prende-se com a escassez de oferta que leva a um aumento dos preços. A solução passa por “tentar reduzir custos associados à produção imobiliária e pela produção de oferta pública”.
O antigo ministro socialista teme que as recentes medidas implementadas pelo Governo (como a garantia pública e isenção de IMT e IS) tenham um efeito inverso ao pretendido. “Quando se facilita o acesso sem aumentar a oferta, os preços aumentam. Pode ser contraproducente”, afirmou.
Para o professor Manuel Collares Pereira, a solução exige uma mudança de paradigma na construção. “Temos de mudar a forma de construir, pré-fabricamos o edifício, industrializando a construção e a mão de obra deixa de ser uma questão”, defendeu.
Considera que a construção sustentável, por exemplo em madeira, pode ter um custo final idêntico à de betão, porque permite uma obra mais limpa e rápida, além de serem edifícios que fazem o sequestro de CO2.
O encerramento dos trabalhos da Convenção esteve a cargo do Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, que defendeu a cedência de terrenos públicos para construção a custos controlados e o contributo dos promotores privados para resolver o problema da habitação.