Passeios
Destinos de sonho para uma escapadinha barata
Setembro 7, 2023 · 6:08 pm
Rio Guadiana, Mértola
Tantas vezes, partir é o melhor caminho para nos descobrirmos. Se, como afirmava o escritor de viagens Bruce Chatwin, a verdadeira casa do homem não é uma casa, mas a estrada, pouco importa se a caminhada é longa ou curta, desde que a façamos.
Nem sempre temos tempo ou recursos suficientes para empreender uma grande viagem. Todavia, as simpáticas escapadinhas são aquele balão de oxigénio que nos permite continuar a encarar o quotidiano com energia retemperada e a sensação de descoberta que nos alimenta o espírito.
Portugal oferece destinos surpreendentes para todos os gostos. Descubra três destinos de sonho para fugir, cá dentro.
Tomar: Em busca dos cavaleiros Templários

Convento de Cristo, Tomar
Para quem gosta de passeios com um toque de mistério, a cidade de Tomar, situada no centro do país e detentora de um impressionante património, é imperdível.
Antiga sede da Ordem dos Templários, Tomar guarda até hoje um encanto a que é difícil resistir. Histórias de cavaleiros, túneis secretos e tesouros escondidos continuam a alimentar a imaginação dos visitantes.
Conta a lenda que D. Gualdim Pais, cruzado e quarto Grão-Mestre dos Templários, terá escolhido um monte nas margens do Rio Nabão, sobre um antigo povoado romano, para estabelecer um castelo. A partir desta fortificação, cuja edificação se iniciou em 1160, desenvolveu-se a vila de Tomar.
Dentro das muralhas, ergueu-se a Charola, um oratório de forma octagonal que reproduz a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém. Até hoje é um dos mais emblemáticos e originais monumentos templários. À construção primitiva, o tempo e a história foram acrescentando outras marcas e estilos. O monumental Convento de Cristo e o Castelo Templário foram classificados como Património da Humanidade pela UNESCO, em 1983.
Quando a perseguição aos Templários culmina com a extinção da ordem, pelo Papa Clemente V, no século XIV, Portugal não só não atuou contra os cavaleiros, como D. Dinis acolheu e fundou a Ordem de Cristo.
Herdeira e depositária das riquezas templárias, a nova ordem preservou o seu espírito de cruzada, revelado de novo durante os Descobrimentos.
Alguns historiadores defendem como possível que Tomar tenha escondido algumas das mais valiosas relíquias trazidas de Jerusalém pelos Templários. Entre elas estaria o Santo Graal, o cálice supostamente usado por Jesus Cristo na Última Ceia. Não prometemos que o encontre, mas decerto que esta escapadinha valerá a pena.
Entre auroques e cavalos em Foz Côa

Foz Côa
Muitos talvez não se recordem que, nos idos anos 90 do século XX, a construção de uma barragem no nordeste de Portugal fez estalar a polémica. De outra forma, o tema talvez não merecesse manchetes nos jornais ou inflamasse as opiniões populares. Contudo, a descoberta de um conjunto de gravuras rupestres nas margens do Rio Côa, na zona que ficaria submersa pela barragem, lançou o debate nacional.
A importância artística e científica do achado, bem como o enorme número de gravuras entretanto descobertas, levou o governo português, numa decisão inédita, a abandonar a construção da barragem, em 1996.
Esta barragem teria tido decerto um impacto importante na vida das populações, contudo, a enorme relevância do legado descoberto foi uma revolução nesta região de paisagens deslumbrantes.
O Parque Arqueológico do Vale do Côa nasceu para proteger o maior conjunto mundial de arte paleolítica ao ar livre. São mais 80 locais com arte rupestre, cerca de 1200 rochas gravadas num território de cerca 200 kms2 abrangendo áreas dos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Mêda.
As gravuras, na maioria em rochas de xisto, retratam sobretudo herbívoros: são auroques (bois selvagens), cavalos, veados, alguns deles sobrepostos como que criando a ilusão de movimento.
Em 1998, no processo de classificação mais rápido de sempre, a arte pré-histórica do Vale do Côa foi classificada como Património Mundial pela UNESCO, que considerou ser «uma ilustração excepcional do desenvolvimento repentino do nosso génio criador durante a alvorada do desenvolvimento cultural humano».
As visitas são guiadas e devem ser marcadas antecipadamente. Podem ser realizadas a núcleos distintos, a pé, de carro, de barco, caiaque e até mesmo durante a noite. Vale bem a pena fazer esta “escapadinha”!
Escavando a herança de Mértola

Mértola
Chegar a Mértola quase basta para justificar a viagem: a beleza da vila empoleirada na enorme fraga tira-nos o fôlego. O castelo nas alturas contempla a alvura do casario e o azul do Guadiana serpenteando em baixo.
Percebe-se bem por que razão os Fenícios escolheram este local para se fixar e criar um importante porto fluvial. A geografia fez de Mértola lugar de confluência de inúmeras culturas. Ao longo da história, foram várias as civilizações que deixaram a sua marca, camada por camada: Romanos, Visigodos, Mouros. É por camadas, também, que a história se vai revelando, descobrindo. Porque também é de amor à História que se faz esta estória.
Mértola é um concelho do interior sul que, como muitas outras regiões do Alentejo e do país, teve de enfrentar problemas de despovoamento e desertificação. No entanto, ao contrário de outras, esta terra soube reinventar-se através da valorização dos seus recursos naturais, belíssimos, mas também culturais.
A esta reinvenção não será estranha a criação do Campo Arqueológico de Mértola, em 1978, pelo arqueólogo Cláudio Torres. Convicto de que a cultura deve ser um instrumento de desenvolvimento do território, Cláudio Torres, Prémio Pessoa 1991, fez crescer um projeto que entretece História, Arte, Património e Natureza.
Mértola escapou ao destino de terra pobre e esquecida e fez-se Vila Museu, com múltiplos polos dinâmicos e, sobretudo, com uma comunidade envolvida na preservação da sua herança e memória coletiva. No mês de maio, de dois em dois anos, acontece o Festival Islâmico de Mértola, um evento que tem lugar no centro histórico, de dois em dois anos, e justifica uma escapadinha rumo a sul.
Hoje, Mértola sintetiza a riqueza e diversidade dos legados dos diferentes povos que moldam a nossa identidade multicultural.
De sul a norte, não nos faltam bons pretextos para descobrir Portugal. Os destinos de sonho podem, na verdade, ser em qualquer lugar, desde que levemos na bagagem o espanto e a vontade de conhecer mais.