Passeios

Conhece a origem das tradições dos Santos Populares?

Junho 7, 2023 · 4:17 pm
Foto de Bruno Coelho

Junho é o mês dos Santos Populares! Um pouco por todo o país, preparam-se as celebrações: arraiais, sardinhadas e bailaricos, ruas decoradas com balões e grinaldas de papel colorido.

Os festejos dos Santos Populares existem há vários séculos e pensa-se que a sua origem remonta às festividades de origem pagã do solstício de verão (que ocorre no final de junho) ligadas às colheitas, à abundância e à fertilidade.

A cristianização das festas juninas ligou-as à devoção a três santos: Santo António (a 13 de junho), São João (a 24 de junho) e São Pedro (a 29 de junho), celebrados em diferentes regiões do país. As noites que antecedem o dia dos Santos são de música, danças, marchas, fogueiras, fogo de artifício e muita alegria!

Os manjericos

a origem das tradições dos Santos Populares
Fotografia de Sofia Martins

Não se sabe ao certo como é que o manjerico, planta da família do manjericão originária do Médio Oriente, chegou a ex-libris dos Santos Populares em Portugal. Talvez devido ao aroma perfumado, a tradição mandava que os namorados oferecessem um manjerico às suas amadas. Por essa razão, ficou conhecido como Erva dos Namorados.

Atualmente, arraial que se preze tem as belas bancas de manjericos em vasos de barro, ornamentados por cravos de papel, cada qual com uma quadra popular inscrita numa bandeirinha de papel.

Frágil como o amor, o manjerico tem um ciclo de vida curto: plantada no inverno, morre depois de dar sementes no outono. Assim, dizer que não pode ser cheirada diretamente, é apenas um mito associado à sensibilidade da planta. Para garantir a longevidade possível ao seu manjerico, mantenha-o com muita luz, mas não direta. Os especialistas aconselham uma boa drenagem: depois de regar, escorra a água em excesso.

Marchas Populares

Santos populares: arraiais
Foto de Bruno Coelho

A origem das marchas populares tem diversas versões. Alguns estudiosos consideram que os desfiles podem ter-se inspirado nas “danças de Entrudo” ou nas “Marchas ao Flambó” (deturpação do francês “marche aux flambeau”, que significa “marcha noturna com archotes”). A tradição francesa parece ter sido misturada com outras práticas mais antigas aquando das invasões napoleónicas.

As marchas populares no modelo que hoje conhecemos têm origem mais recente. Foi em 1932, durante o Estado Novo, por iniciativa do diretor do Parque Mayer, que o jornalista e cineasta Leitão de Barros idealizou uma competição com ranchos folclóricos dos bairros mais antigos de Lisboa, inspirado nos tradicionais festejos dos Santo António, reavivando as velhas marchas de bairro também chamadas de “ranchadas”.

A popularidade da iniciativa levou a que, dois anos mais tarde, já fosse a Câmara de Lisboa a organizar o cortejo. As marchas populares lisboetas são as mais célebres do país, embora não sejam exclusivas da capital. Os bairros tradicionais desfilam na Avenida da Liberdade, e competem por diversos prémios, cantando, dançando e exibindo os trajes e adereços cuidadosamente confecionados.

Alho-porro e martelinhos

Foto de Christopher Previte no Unsplash

Nos festejos do São João, segundo a tradição, não podem faltar os alhos-porros, ramos de cidreira e, mais recentemente, os martelinhos de plástico para bater nas cabeças alheias. Qual a razão de ser desta estranha tradição?

Acredita-se que o alho-porro era usado para proteger contra o mau-olhado, mas também, pela sua forma fálica, para exaltar a fertilidade masculina. As pessoas deslocavam-se entre diferentes festividades em grandes rusgas (grupos) e os rapazes usavam os alhos-porros para provocar as raparigas com que se cruzavam, quase em jeito de cumprimento. Elas respondiam com ramos de erva-cidreira, o que, convenhamos, era bastante desequilibrado, pelo menos em termos aromáticos.

Os ruidosos martelinhos de plástico que vieram substituir os alhos-porros nas noites de São João têm origem bem diferente. Um industrial do Porto, no ano de 1963, decidiu criar um brinquedo para o negócio e ofereceu vários martelinhos aos estudantes durante a Queima das Fitas. A brincadeira pegou e um mês depois, na noite de São João, os brinquedos saíram de novo à rua. A moda pegou, desconhecendo-se, contudo, se, tal como o alho-porro, os martelinhos têm propriedades capazes de afastar pragas e invejas.

Fogueiras, balões de ar quente, fogo de artifício

Balões de São João
Foto de Leon Contreras na Unsplash

O fogo e a luz são elementos simbólicos recorrentes nas celebrações dos Santos Populares.

Nas festas de São João e de São Pedro ainda é tradição de muitos locais saltar pequenas fogueiras, queimar alcachofras (depois enterradas) para descobrir amores correspondidos. Crê-se que também esta é uma prática ancestral herdada, talvez, dos Celtas que homenageavam a Deusa-Mãe Natureza com fogueiras e queima de ervas aromáticas.

De igual modo, os balões de papel e o fogo de artifício cumprem a mesma função. Embora os balões de ar quente, iluminando a noite, tenham caído em desuso devido ao risco de incêndio, são parte da identidade das festas sanjoaninas, homenagem ao fogo e ao sol.

Seja por amor à tradição ou apenas porque gosta de uma boa farra, aproveite a ampla oferta de festas e arraiais que, de norte a sul do país, celebram o verão e a vida!

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