Como evitar que a sua casa se torne num cenário de filme de terror

Nem sempre é preciso uma tempestade, uma falha na eletricidade, um baú antigo ou uma boneca de porcelana de olhar assustador para transformar uma casa num cenário de filme de terror. Por vezes, basta uma porta a ranger, uma lâmpada a piscar sozinha, uma aragem gélida que nos petrifica para fazer o coração disparar.

Nada é mais poderoso do que a nossa imaginação, por isso, antes de ligar ao padre, à médium ou aos Ghostbusters, vale a pena lembrar-se de que o mais provável é que a sua casa precise de alguma reparação. Será maldição ou manutenção?

Num filme de terror, nada anuncia melhor uma cena assustadora do que o som demorado de uma porta a abrir lentamente, rangendo as dobradiças como se tivesse aprendido a falar.

Felizmente, o antídoto é simples e não envolve acolher espíritos malignos: um pouco de óleo nas dobradiças, no limite, uma chave de fendas e cinco minutos de paciência resolvem o problema. Pode usar óleo lubrificante em spray ou até umas gotas de azeite em caso de emergência. O silêncio será imediato e o ambiente bem menos sinistro.

Está sozinho em casa e a luz começa a piscar? Respire fundo. Muito provavelmente, não é um aviso do além, é apenas uma falha na eletricidade.
As causas mais comuns são lâmpadas a precisar de substituição, candeeiros estragados, ligações mal apertadas ou mesmo falhas de corrente.

Uma lâmpada LED de boa qualidade e uma verificação simples da instalação resolvem o “fenómeno” que tem pouco de “para” e muito de “normal”.
Quando trocar as lâmpadas, aproveite para escolher modelos LED de luz quente/ amarela que criam ambientes mais acolhedores e contas de eletricidade menos dignas de um filme de terror psicológico.

Se sente arrepios sem explicação, aragens glaciais a varrer-lhe o pescoço ou um frio inexplicável que lhe gela os ossos e a alma, é mais provável que tenha um problema de isolamento do que de possessão.

Isolar frestas com fitas de calafetagem ou mesmo a substituição de portas e janelas antigos, faz maravilhas na temperatura, no conforto e na conta da energia. Além disso, uma casa confortável é menos propensa ao poder de sugestão.

Monstros húmidos e viscosos a deixar um rasto brilhante no chão podem ser assustadores nos filmes, mas são bem piores na vida real. Só quem nunca enfrentou o mais tremendo dos terrores domésticos, a humidade, pode desvalorizar o vilão silencioso das casas portuguesas. As manchas acinzentadas, os pontos escuros, o cheiro a mofo… não, não é ectoplasma, é pior: uma infiltração!
A humidade afeta mais do que a estética e o humor, pode comprometer a saúde e até a estrutura da casa. A solução passa por, primeiro, identificar a origem da infiltração. Pode ser fuga de água, falta de isolamento ou apenas condensação acumulada. Se necessário, recorra a um especialista em impermeabilização, mas não se esqueça que ventilação é essencial. Por isso, abra as janelas diariamente: os monstros não estão lá fora, criam-se cá dentro quando o ar não circula!

É meia-noite, o silêncio do descanso é interrompido por ruídos inesperados. O soalho estala e o coração dispara. Serão espíritos? A casa está assombrada? Calma, a madeira dilata e contrai com as variações de temperatura e humidade. Por isso, soalhos de madeira, mas também móveis, podem fazer ruídos inesperados. O silêncio da noite é apenas mais propício a que estes sejam audíveis.

Ainda assim, uma boa inspeção ao pavimento pode ajudar a descobrir pregos soltos ou tábuas desalinhadas, além de que uma boa hidratação das madeiras, com produtos adequados, é imperativa para a sua manutenção e vida prolongada.

Não se esqueça ainda de que a vida em prédios ou casas geminadas nos oferece uma paleta de sons sugestivos que são, muitas vezes, dos nossos vizinhos. E esses só parecem zombies nas reuniões de condomínio.

Tubos, canos e radiadores com vida própria são outro clássico. O som de água a correr, o estalar do metal ou aquele assobio súbito que nos revolve as entranhas não são sinais do outro mundo, apenas pressão ou ar acumulado no sistema.

Faça uma limpeza regular aos radiadores, use aquelas poções mágicas chamadas desentupidores na canalização e chame um técnico se o som persistir. Sai mais barato do que um exorcismo, na maior parte das vezes.

Cadeiras que deslizam, quadros inclinados, cortinas que dançam, objetos que aparecem e desaparecem… todos esses “fenómenos” do além têm uma explicação bem terrena. Seja uma casa mal nivelada, uma corrente de ar um “arrumador” com problemas de memória, o melhor antídoto contra sustos cinematográficos é um pouco de física e muito humor.

No fundo, o que assusta nas casas é o esquecimento. Uma revisão periódica da instalação elétrica, da canalização e do isolamento evita reparações dispendiosas e garante que o único susto que tem é com a conta da luz.

E se mesmo assim continuar a ouvir ruídos estranhos e sentir presenças misteriosas,
talvez seja apenas a casa a lembrar-lhe que está viva e que, tal como nós, também precisa de mimos e cuidados regulares. Porque casas felizes não têm fantasmas: têm manutenção.