Habitação

Casas sobrevalorizadas, salários baixos: Portugal lidera desequilíbrio na Europa

Outubro 16, 2025 · 1:55 pm
Imagem de vwalakte no Freepik

Portugal é o país da União Europeia onde as casas estão mais sobrevalorizadas, cerca de 35% acima do seu valor real, segundo um relatório da Comissão Europeia. O estudo, publicado esta terça-feira, alerta que o desequilíbrio entre preços e rendimentos se agravou em 2024, contrariando a tendência de estabilização observada na maioria dos restantes países europeus.

O relatório, intitulado “Housing in the European Union: Market Developments, Underlying Drivers, and Policies”, assinado por Guillaume Cousin, Christine Frayne, Vítor Martins Dias e Bořek Vašíček, conclui que Portugal é o único país da UE onde a sobrevalorização dos preços da habitação aumentou de forma significativa este ano.

Preços disparam acima dos rendimentos

Ao longo da última década, os preços das casas na União Europeia cresceram, em média, 10% mais rapidamente do que os rendimentos, uma tendência que em Portugal foi particularmente acentuada. O resultado é um esforço financeiro das famílias entre os mais elevados da Europa, tanto para comprar como para arrendar casa.

Para calcular a sobrevalorização, Bruxelas cruzou três métricas principais:


  • Modelos econométricos que relacionam preços com variáveis como rendimentos, taxas de juro e oferta habitacional;

  • O rácio preço-rendimento, que mede quantos anos de rendimento são necessários para comprar uma casa;

  • O rácio preço-renda, que compara o preço de compra de um imóvel com o valor das rendas anuais que este poderia gerar.


Em Portugal, a conclusão é clara: os preços de mercado ultrapassam em cerca de 35% o valor que seria justificado pelos fundamentos económicos.

Oferta em mínimos e burocracia em máximos

Entre as causas estruturais apontadas está uma oferta habitacional cronicamente limitada, incapaz de responder à forte procura. O relatório sublinha que “a nova construção tem vindo a diminuir, atingindo mínimos históricos”, num contexto marcado por regras urbanísticas complexas, baixa produtividade no setor da construção e demoras excessivas nos processos de licenciamento.

Portugal é, de facto, um dos países da UE onde a emissão de alvarás é mais demorada, podendo demorar até 31 semanas. Este processo burocrático representa “uma fonte significativa de ineficiência que limita drasticamente a resposta da oferta”, lê-se no documento.

Os autores destacam ainda “a rigidez das regras de zoneamento e uso do solo”, que, apesar de terem objetivos ambientais legítimos, acabam por restringir fortemente a disponibilidade de terrenos para construção habitacional.

Investimento sem novas casas

O estudo nota que, apesar de o investimento residencial ter regressado aos níveis anteriores à crise de 2008, isso não se traduziu num aumento expressivo da construção nova. Em vez disso, o capital tem sido canalizado para renovações e reabilitações, muitas delas ligadas à melhoria da eficiência energética, num contexto em que o setor enfrenta escassez de mão-de-obra e falta de competências técnicas.

Outro fator com peso relevante no caso português é o impacto do turismo. Segundo o relatório, Portugal é o país da União Europeia onde o turismo teve o impacto mais forte nos preços da habitação, sobretudo devido à expansão das plataformas de alojamento de curta duração.

A Comissão Europeia conclui que “a proliferação destas plataformas perturbou o mercado habitacional tradicional, confundindo as fronteiras entre arrendamento de curto e longo prazo”. O resultado foi a redução da oferta de arrendamento permanente, à medida que muitos proprietários transferiram imóveis para o mercado turístico, em busca de rendimentos mais elevados.

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