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10 coisas que tem de fazer em Portugal pelo menos uma vez na vida
Junho 7, 2024 · 4:38 pm
Foto de Alano Oliveira na Unsplash
Viver num país é também, e sobretudo, viver um país. Mas o que define Portugal e a portugalidade?
Se a única coisa que une os portugueses é Portugal, somos a soma dos fragmentos ou seremos mais? Somos mais do que futebol e fado, do que novecentos anos de História e uma tendência nacional para a contradição? Quem somos, afinal?
Carregamos a melancolia e a poesia no estar, mas também mantemos a porta aberta, o copo cheio, a mesa farta. Somos a luz, os dias intermináveis, a praia. Mas também chuva, neblina, lusco-fusco e céu estrelado. Adoráveis e rabugentos, criativos e macambúzios, guardamos o ser e o seu contrário.
Na procura de respostas, deixamos em paz Afonso Henriques e os seus laivos independentistas, abandonamos a padeira que aviava espanhóis à pazada e ainda o poeta que deixou em Ceuta metade do seu olhar. Naufragamos em Descobrimentos, deixamos por restaurar a nossa independência e proclamamos ter o rei na barriga apenas para nos entregarmos à conquista de experiências únicas, daquelas capazes de provocar verdadeiras revoluções.
De pés bem assentes no presente deste retângulo à beira-mar plantado, mas celebrando toda a herança misturada entre cá e lá, agora e então, partidas e chegadas, vamos em busca das coisas que temos de fazer, pelo menos uma vez na vida, em Portugal.
- Dar um mergulho no mar
Somos mais água que terra, país oceânico virado para o azul. As pescas, os navegadores, o turismo, os poetas: sempre cantámos e vivemos o nosso mar e nada se compara a um mergulho no nosso Atlântico, seja na frescura valente do norte ou nas mais temperadas águas a sul. Mesmo quem não sabe nadar, chapinha na praia, revolve problemas nas ondas, submerge o olhar no horizonte infinito nas falésias.
2. Dançar num arraial ou festa popular
Podemos ser o país do fado, da saudade e de uma certa melancolia, mas, quando é para fazer uma festa, damos tudo! Seja nos arraiais dos Santos Populares ou nas centenas (apenas?) de festas tradicionais, romarias e bailaricos que há por todo o país, sobretudo nos meses de verão, o português adora uma celebração. A santíssima trindade das festarolas não engana: música, comes e bebes, tudo o resto pode variar.
Veja passar a procissão, coma uma sardinha assada, dê um pezinho de dança e dois dedos de conversa. Compre uma rifa na quermesse, faça um brinde com os amigos, besunte as mãos numa fartura e agarre a sua cara-metade para mais uma dança.
3. Usar uma expressão ou ditado popular
Todos os povos têm ditados e expressões populares cuja origem se perde nas raízes das memórias. Mas é difícil para um português manter uma conversa sem fazer uso de uma das suas expressões idiomáticas, dos ditados populares ou daquelas frases que só fazem sentido entre quem percebe as subtilezas do tom e do contexto.
Para quem está a aprender a língua portuguesa este é um desafio ainda maior do que a gramática. Boa sorte a usar o google tradutor em expressões desde o clássico “Vai-se andando”, até aos animalescos “dar com os burros na água”, “nem que a vaca tussa” ou “engolir um sapo”. Ilustrativas da nossa portugalidade, expressões como “estar com os azeites” ou “vou mudar a água às azeitonas” temperam qualquer diálogo. Bem adequado ao atual calendário é o mais erudito “vai chatear o Camões”.
4. Dormir num castelo, visitar um mosteiro, descobrir um monumento
Se elegêssemos apenas um, seríamos injustos com tantos outros. Portugal tem um património cultural incrível e não faltam monumentos capazes de deslumbrar o mais empedernido e enfadado dos visitantes.
Durma dentro das muralhas dos castelos, aquiete-se na penumbra das igrejas, demore-se a encontrar um dólmen perdido nos campos. Escale o Bom Jesus de Braga, suba à Torre dos Clérigos, enamore-se com D. Pedro e D. Inês em Alcobaça, envolva-se no misticismo do Palácio da Pena.
Nos passeios domingueiros e nas férias em família, o bom português lá encontra espaço na agenda para visitar o seu património e o nosso dá para muitas vidas.
5. Comer numa tasca
Bem sabemos que a pressão turística roubou ao nome alguma da sua pureza, mas uma tasca verdadeira continua a ter a beleza dos clássicos. Ambiente descontraído, doses generosas, tempero com sabor a casa e preços justos são a receita das boas tascas portuguesas. Esqueça a contagem de calorias: Iscas com elas, pataniscas de bacalhau, Tripas à moda do Porto, choco frito, Cozido à Portuguesa, bitoques e migas: a geografia dita o repasto.
Possivelmente, atrás do balcão, vai encontrar aquela simpatia áspera de quem não tem tempo a perder com salamaleques. Aqui não há palavras estrangeiras no menu nem empregados a cativar clientes à porta do estabelecimento, mas as iguarias deixam qualquer um com o GPS interno capaz de voltar em piloto automático.
6. Ver o pôr do sol num miradouro
Ainda ninguém conseguiu cobrar bilhetes para o pôr-do-sol e ainda bem porque há uma magia guardada num dia que termina difícil de quantificar. Aliar o momento a um cenário deslumbrante é ainda mais perfeito!
Portugal tem miradouros de grande beleza, nos campos e nas cidades, com vista sobre o mar e rio, casarios, florestas e rochas escarpadas. Demore-se nesse instante em que o sol se esvai no horizonte e os minutos se agigantam na nossa contemplação. Não há dois iguais, parece que a natureza faz deste um espetáculo sempre único para deslumbrar o seu público.
7. Beber um copo de vinho
Que nos perdoem as crianças (longe vão os tempos das sopas de cavalo cansado) e os abstémios, mas beber um copo de vinho tem de fazer parte da lista de coisas a fazer pelo menos uma vez da vida. De preferência, mais umas quantas. Seja um Vinho do Porto ou da Madeira, um tinto, branco ou rosé, engarrafado ou em jarro, não faltam opções para todos os gostos.
O vinho faz parte da cultura nacional e não deixa de ser extraordinário que tão pequeno país tenha tamanha grandiosidade na paleta de sabores e aromas, São 14 regiões vinícolas e mais de cem castas de uvas autóctones: possivelmente, foi Baco, o deus romano do vinho, que por aqui se demorou e deixou a sua herança.
Em qualquer supermercado ou restaurante português, encontra uma boa variedade de vinhos, mas se quiser elevar a experiência a outro patamar visite as belíssimas vinhas e adegas do país.
8. Visitar um mercado
Quem quer conhecer a essência de um país, deve visitar os seus mercados. Esta máxima devia constar nos prefácios de todos os guias de viagem e ser impressa em t-shirts e postais. Os mercados não são todos bonitos, arrumados e floridos, mas são o reflexo dos povos e culturas que fazem deles o centro das suas trocas.
Em Portugal, devemos estender esta lei a todas as feiras do país. Em nenhum outro local vemos tanta vida a acontecer: os produtos locais e da estação apresentam os cheiros e cores da região e mostram a sua força de trabalho. Não são apenas montras da enorme variedade gastronómica, mas também da riqueza dos produtos regionais e do nosso artesanato.
Apesar disso, o melhor das feiras e dos mercados está nos pregões dos vendedores, nos regateios de quem paga, nas lamúrias de uns e de outros sobre os preços. São as conversas entrecortadas, os encontros e as despedidas, a energia vital das pessoas a pulsar em cada banca que fazem de uma ida ao mercado algo a fazer, pelo menos uma vez na vida.
9. Ir à terra
Os portugueses de gema vão à Terra. Não falamos do planeta, evidentemente, mas daquele imaginário partilhado que é o lugar de onde vimos. No verão, nas férias, nas datas especiais, todos partem para a terra. Vão à festa da aldeia, às vindimas, à apanha da azeitona. No batizado dos primos, nos fins-de-semana grandes, em agosto quando todos regressam a casa. Trazem batatas, fruta, carnes, azeite. As castanhas, as azeitonas, a marmelada da avó.
Do Minho ao Algarve, do litoral à raia, passando pelos arquipélagos, qualquer espaço povoado por afetos e memórias pode ser a nossa terra.
Tristes são os citadinos e expatriados que, não tendo eira nem beira, nem uma terra conseguem adotar como sua. Porque muitos há que, percebendo o que a ausência de uma terra faz às pessoas, arranjam a sua à força. Compram a casa de fim-de-semana, recuperam a ruína dos bisavós, acolhem geografias em comunhão de adquiridos.
10. Olhar para o céu estrelado
Diz a sabedoria popular que contar estrelas faz nascer cravos nos dedos, mas também sabemos que as superstições existem para serem contornadas. Haverá no planeta muitos lugares adequados para astrónomos e leigos se deleitarem a olhar os céus, mas poucos têm os encantos do nosso Alentejo.
Os céticos e os pragmáticos dirão agora: para ver estrelas, basta olhar para o céu. Nós, os outros, os que gostam de apanhar chuvas de estrelas e adivinhar os nomes das constelações, mesmo sem distinguir Perseidas de Leónidas, sabemos que não é assim. Para observar um céu estrelado é necessário que a ausência de luzes e de nuvens se conjuguem. E mais, se aliem à amplitude do olhar e do horizonte.
O Dark Sky Alqueva, foi o primeiro sítio do mundo a ser certificado como um “Starlight Tourism Destination”, concedido pela Fundação Starlight aos destinos que têm poluição luminosa muito baixa e onde se pode desfrutar de oportunidades únicas e inigualáveis para ver o céu noturno e descobrir a nossa galáxia.
Haverá outra experiência capaz de nos recolocar na nossa escala cósmica com tanto deslumbramento? Muitos outros “céus” são límpidos em Portugal, mas a clareza do céu do Alqueva merece uma visita, pelo menos uma vez na vida.