10 coisas que só podemos fazer em liberdade
Abril 24, 2025 · 4:09 pm
Beijar alguém em público, ouvir a música favorita sem olhar por cima do ombro, proferir livremente uma opinião: coisas simples que raramente questionamos, mas que só fazemos porque vivemos em liberdade.
Durante quase meio século, Portugal viveu sob uma ditadura que controlava a palavra, o pensamento, o corpo e até os silêncios. As ideias eram vigiadas nas conversas, nos livros, no cinema, em teatros, jornais e canções.
O 25 de Abril de 1974 fez-se de coragem, de cravos e de um país com sede de futuro. 51 anos depois da Revolução, muitas das conquistas parecem evidentes, mas recordar o que já foi proibido, em jeito de panaceia para males maiores, é um exercício de memória necessário para valorizar tudo o que agora é possível, em liberdade.
Elegemos 10 coisas que só podemos fazer em liberdade, e que seriam impensáveis antes de 1974, hoje parte do nosso quotidiano – por direito e por conquista. Naturalmente, poderíamos elencar muitas mais, porque o contrário da liberdade tem muitos nomes.
- Reunir amigos
Ajuntamentos com mais de três pessoas podiam levantar suspeitas e levar a polícia política a intervir. Hoje, reunimo-nos em grupo em casa, nas ruas, nos jardins e cafés, em associações e em manifestações – e isso é liberdade em estado puro.

Imagem de standret no Freepik
- Dizer o que pensamos
A opinião era controlada. Quem discordava do regime arriscava-se a ser preso, torturado, silenciado. Hoje, podemos discutir política no café ou nas redes sociais sem ter de sussurrar divergências. Podemos debater, criticar, rir, satirizar, opinar e até mudar de ideias – tudo com liberdade de expressão.
- Mostrar o umbigo na praia
Os fatos de banho “ousados” eram proibidos. Pode parecer uma questão supérflua, mas não o era. A moralidade era policiada, com amarras sempre mais justas sobre o corpo, as roupas e as liberdades das mulheres. Hoje, podemos vestir o que nos faz sentir bem – seja um biquíni, umas calças ou uma minissaia.
- Protestar
Antes, protestar era crime: as manifestações reprimidas, as contestações proibidas, os panfletos clandestinos. Hoje, manifestamo-nos pelas causas que (nos) importam – e essa capacidade de participação é um direito conquistado com coragem e sacrifício de muitos.
- Casar (ou não) com quem queremos
Havia profissões em que era preciso autorização do Estado para casar. E outras em que o casamento estava proibido. As enfermeiras, telefonistas e hospedeiras da TAP não se podiam casar, as professoras estavam sujeitas a autorização do Ministro. Hoje, o amor não precisa de carimbo.

Foto de Nguyễn Tân na Unsplash
- Usar isqueiro sem licença
O Estado interferia em gestos tão simples como acender um cigarro. Era preciso uma autorização das Finanças para ter um isqueiro. Verdade. Tudo em nome da “defesa da indústria nacional de fósforos”. Se nos rimos hoje destas particularidades é porque podemos.
- Ir à escola
Antes da Revolução, a escolaridade obrigatória era curta e muitas crianças, sobretudo nas zonas rurais, não chegavam sequer a completar o ensino básico. O ensino secundário e superior eram privilégio para poucos e a taxa de analfabetismo era elevada, sobretudo entre as mulheres. As histórias dos meninos que nunca foram crianças eram a regra e o trabalho infantil aceite como normal.
O 25 de Abril trouxe a promessa de uma escola pública, gratuita e universal. Até hoje, a educação é uma das maiores ferramentas de liberdade, inclusão e mobilidade social.
- Ouvir as músicas de que gostamos
Muitas canções eram censuradas. Havia listas negras, discos proibidos e artistas vigiados. Nas telefonias, nos concertos, até no gira-discos lá de casa: tudo devia passar pelo crivo da censura, embora algumas notas resistentes lhes tenham escapado. Não foi à toa que as senhas secretas para a saída das tropas dos quartéis, na madrugada de 25 de abril, fossem músicas emitidas por ondas de rádio. Hoje, podemos fazer playlists com tudo o que nos inspira – sem pedir autorização.
- Ler o que se quiser
Livros, revistas, jornais e até panfletos passavam pelo tristemente célebre lápis azul da censura. No caso dos livros, por incapacidade de os censores lerem tudo o que era publicado previamente, estes eram normalmente proibidos já depois de impressos. Os escritores eram perseguidos, vigiados e as suas obras apreendidas.
Guardar nas prateleiras de casa um livro proibido era razão bastante para muitos problemas. Hoje, a leitura é um ato livre e fundamental para a construção do pensamento.

Foto de Rahul Shah no Pexels
- Votar livremente
Durante a ditadura, o direito de voto era limitado a uma parte da população, vigiado e apenas simbólico. Embora se realizassem eleições, não havia liberdade para escolher entre diferentes propostas políticas e os resultados estavam, na prática, decididos à partida.
A democracia só se tornou real com o 25 de Abril. Um ano após a Revolução dos Cravos, a 25 de abril de 1975, os portugueses puderam pela primeira vez votar em eleições livres com sufrágio universal. Atualmente, o voto é uma das expressões mais fundamentais da liberdade e uma forma de dar voz à vontade de quem quer ser representado na construção do país.
O 25 de Abril, mais do que uma mera data ou comemoração, é um ponto de viragem na história coletiva de Portugal. Hoje, vive nos gestos quotidianos: na música que ouvimos sem medo, no livro que escolhemos ler, nas palavras que proferimos, no direito a discordar, a rir, a decidir, a participar. Mas vive também na justiça, na educação, na saúde, nos Direitos Humanos, em tantas declinações resumidas na possibilidade de contribuir para a construção de um país, em liberdade.
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